Olá Poupadores, no artigo de hoje vou responder a dúvida de um dos nossos seguidores: é melhor financeiramente a previdência própria ou púbica (INSS)?
Vou logo responder de cara, na grande maioria dos casos compensa a previdência própria através de investimentos na bolsa de valores. Agora vamos mostrar o porquê.
Para começar precisamos conhecer as regras de cada um dos lados para realizar as devidas contas, na bolsa de valores o estudo mais completo que conheço de longo prazo é o realizado pela Economatica que com um corte de 50 anos (até 27 de dezembro de 2017) demonstra que a bolsa de valores brasileira rendeu 6,88% acima da inflação.
Aqui vale uma ressalva, o índice iBovespa conta com as empresas mais negociadas em bolsa, independente se são empresas bem administradas ou não, se você aplicar critérios básicos para separar as empresas más administradas, possivelmente teria um retorno ainda melhor do que 6,88% ao ano. Todavia vamos simplificar nosso estudo, desconsiderar essa ressalva e usar como referência o ganho 6,88% a.a. demonstrado no estudo da Economatica que pode ser replicado por qualquer um com baixo custo e sem qualquer conhecimento aprofundado no assunto.
É importante também comentarmos algumas regras do sistema de previdência atual, a começar pelas regras de contribuição que variam conforme a renda. Sendo a menor alíquota a de 7,5%, quando o cidadão ganha um salário mínimo, podendo chegar a 14% para quem ganha acima de R$ 3.641,03. Além dessa contribuição há a patronal, que por sua via possui uma série de regras, fazendo o valor final variar conforme a empresa, mas de todo modo começa em 20%, no meu caso chega a quase 28%. Para nosso estudo vamos considerar 20% e dar essa vantagem à aposentadoria pública.
Atualmente é exigido ter 65 anos para homens e 61,5 anos para mulheres, ambos com no mínimo 15 anos de contribuição ao sistema.
Casos
Pois bem, na primeira simulação vamos pegar o caso mais beneficiado, o cidadão que ganha um salário mínimo, alíquota de 7,5% e contribuição de 15 anos. O valor descontado de contribuição é de 90,90 (7,5% de R$ 1.212,00) mais 242,40 (20% de contribuição patronal), dando um total de R$ 333,30 de contribuição mensal. Fazendo esses aportes por 15 anos, com rentabilidade anual de 6,88% a.a. o cidadão teria acumulado R$ 102.693,60, valor que produziria anualmente um valor de R$ 7.065,31 que dividido por 13 vezes (considerando o 13º salário) daria um valor mensal de R$ 543,48, pior do que o regime de previdência público que ofereceria R$ 1.212,00. Nesse caso vitória para o INSS.
Agora nem todo mundo trabalhará apenas 15 anos de carteira assinada não é mesmo? Nesse caso, considerando ainda o salário mínimo, com quanto tempo valeria mais a pena fazer a própria previdência? Fizemos essa conta, seriam necessários 24 anos. Ou seja, nessas condições, até 24 anos o INSS leva a melhor.
Agora vamos pegar outro perfil o de quem ganha dois salários mínimos (R$ 2.424,00), nesse caso a alíquota é de 9%, gerando valor total de contribuição mensal de R$ 684,78. Vamos novamente começar pelo tempo de contribuição mínimo de 15 anos, o cidadão acumularia R$ R$ 210.969,69, produzindo mensalmente R$ 1.116,51, pior do que o regime de previdência público que ofereceria R$ 1.454,40 (60% do valor médio de contribuição). Novamente vitória para o INSS.
Novamente, nem todo mundo contribuirá pelo tempo mínimo, na aposentadoria pública a conta é de 60% do salário médio + 2% para cada ano além de 20 anos de contribuição pra homens e 15 anos para mulheres. Se o homem contribuir por 20 anos o valor de aposentadoria será o mesmo R$ 1.454,40, só que agora na previdência própria ele ganharia R$ 1.814,47. Nesse caso vitória para o regime de previdência próprio. E a vantagem só aumenta para cada ano de contribuição a mais, mesmo considerando que o valor do benefício através do INSS também aumente.
Vamos para nosso último cenário, o de quem ganha quatro salários mínimos (R$ 4.848,00), alíquota de 14%, resultando em uma contribuição mensal de R$ 1.484,50. Começando pelo tempo de contribuição mínimo de 15 anos, temos uma acumulação de R$ 457.350,54, produzi do mensalmente R$ 2.420,43, pior que o regime de previdência pública que ofereceria R$ 2.908,80 (60% do valor médio de contribuição). Novamente vitória para o INSS.
Mais uma vez, nem todo mundo contribuirá pelo tempo mínimo, se o homem contribuir por 20 anos o valor de aposentadoria será o mesmo R$ 2.908,80, só que agora na previdência própria ele ganharia R$ 3.933,51, uma diferença de mais de R$ 1 mil. Nesse caso vitória para o regime de previdência próprio. E a vantagem só aumenta para cada ano de contribuição a mais, mesmo considerando que o valor do benefício através do INSS também aumente.
E, para finalizar, vamos ao meu caso. Como minha renda e contribuição variam mensalmente, vou utilizar como referência o valor médio mensal pago em 2021, comecei a contribuir aos meus 25 anos, assim até os 65 anos contribuirei por 40 anos. Nesses parâmetros o valor da minha aposentadoria seria pelo teto do INSS do ano passado, no valor de R$ 6.433,57. Quanto receberia investindo esse mesmo valor por conta própria durante 40 anos? Pasmem, R$ 38.752,22 mensais, mais de 6 vezes do que o INSS. É por isso que sou contra a contribuição compulsória pública, adoraria utilizar meu dinheiro por minha própria conta, me aposentaria bem mais cedo. Esse é custo de terceirizar sua aposentadoria, infelizmente não temos opção. Felizmente vou me aposentar bem antes e deixar de contribuir para essa festa com dinheiro alheio.
Ressalvas
Para finalizar o estudo, vamos fazer algumas ressalvas. Sempre utilizamos como referência 20% de contribuição patronal, mas esse número em muitos casos é maior, no meu caso é de 28%, o que traria uma vitória para o regime de aposentadoria própria mesmo no caso de contribuição mínima de 15 anos.
Uma outra ressalva é com relação ao retorno da bolsa de valores nos últimos 50 anos, embora seja uma boa referência, não há garantias que teremos um retorno maior ou menor nos próximos 50 anos. Todavia, esse é o melhor número para referência que conheço no momento.
Mais uma coisa, estamos apenas considerando a questão de aposentadoria, sem entrar nos demais benefícios para casos de invalidez, doenças, gravidez e outros.
Importante avisar, se você é jovem e ainda vai contribuir por mais de 25 anos, é bem provável passar por uma reforma previdência, que possivelmente vai tirar mais algumas benesses do sistema atual, fazendo que a previdência pública fique ainda menos atrativa.
E, não menos importante, estamos falando de aposentadoria própria, isto é, você mesmo investindo em bolsa replicando o índice, não confundir com aposentadoria privada, nesse caso você só estará escolhendo quem vai ficar com seu dinheiro, porque o custo também é imenso, mas isso é assunto para outro artigo.
Conclusão
Dito tudo isso, o que podemos afirmar é que, de maneira geral, a aposentadoria pública só é vantajosa quando utilizado como referência o tempo mínimo de contribuição e os valores próximos ao mínimo de contribuição patronal, qualquer um que contribua para além disso, estará perdendo dinheiro.
É isso Poupador, o custo da ignorância e terceirização é gigante, espero que depois dessas contas você reflita e comece já a pensar na sua própria aposentadoria, pois na melhor das hipóteses o estado e outras pessoas ficarão com boa parte do seu dinheiro suado. Dúvidas? Deixei algum raciocínio de fora? Comenta aqui embaixo.